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A Consciência Política de Aluízio Alves – II: O chapéu dos políticos

Written By BLOG DO WOLNEY ERICK on quinta-feira, 25 de julho de 2013 | 19:41

Tomislav R. Femenick - Jornalista, mestre em economia com extensão em sociologia e história, membro da diretoria do Instituto Histórico e Geográfico do Rio Grande do Norte.

Os atores principais da cena política são, indubitavelmente, os agentes partidários, cabendo aos dirigentes dos partidos os papéis principais. São os políticos e, principalmente, seus dirigentes que direcionam a atuação dos partidos. Não há ação política organizada sem que seja pensada, planejada e executada pelos políticos, assim entendidos como as pessoas que atuam em qualquer nível e instância. Líderes de movimentos populares de setores da sociedade civil e de representações profissionais (associações e sindicatos), os assessores que atuam como cabos eleitorais nas zonas periféricas e nos centros urbanos, aqueles que exercem qualquer cargo ou função como representante da administração pública e, também, as pessoas que têm influência na formação da opinião pública também participam desse processo. 
Arquivo/TN

Em última análise são essas pessoas que dão sustentação aos partidos políticos, dando-lhes tanta força quanto seja o seu número e quantidade e qualidade de ação. 

Procurando saber qual o entendimento que o político Aluízio Alves tinha sobre os políticos, sobre os homens e mulheres que se dedicam à política partidária, perguntei-lhe como ele definiria aquelas pessoas que tomam parte nas organizações, nas disputas internas e nas campanhas dos partidos, sendo ou não dirigentes de siglas ou disputantes de cargos eletivos. Respondeu-me Aluízio:

O ser Político

“Tenho que começar repetindo o chavão bastante conhecido: todo ser humano é um animal político, quer seja ou não integrante de alguma sigla, que seja líder ou liderado de algum movimento social ou partido. Mesmo nas suas ações individuais os homens e as mulheres são agentes políticos. É o dia-a-dia da vida que gera os atos políticos, atos que terminam por impor o comportamento dos gestores partidários. Podemos até dizer que há dois campos de atuação política. O primeiro deles é aquele que diz respeito à realidade do individuo e suas relações sociais, essas como reflexo das ações dessa pessoa com a sociedade. Nesse cenário o cidadão age e reage estimulado por interesses próprios, particulares; o que é bastante legitimo. Entretanto a soma das reações individuais gera anseios e necessidade que culminam na formação da opinião pública, em atos coletivos. O outro campo é a arena onde se luta por ascensão ao poder – o efeito do posicionamento dos indivíduos, através da junção de pessoas que comungam com um mesmo pensamento ou com um conjunto de ideias. É nesse espaço que os partidos, em nome dos seus adeptos, lutam pela conquista do poder.

O problema é a metamorfose que acontece entre o primeiro e o segundo estagio e, notadamente, no desenvolver deste último. É complicado, mas vamos procurar entender. As ideias e reivindicações nascem dos anseios do povo em estado natural. Cabe aos políticos transformá-las, lapidá-las para que (quando transformadas em regras pelo ordenamento jurídico da nação) não agridam os direitos dos que não pensam da mesma maneira, o direito das minorias. Os políticos, quaisquer que sejam, tendem a querer moldar as reivindicações populares, dando-lhes novos sentidos e acomodando-as a um modelo conservador de direita ou de esquerda, de modo que lhes permitam conquistar ou se perpetuar no poder. É cruel, no entanto é a realidade. Em nome de um processo civilizatório das reivindicações naturais das massas, os políticos procurar sempre nelas acomodar a luta pelo poder. Alguns poderão dizer que a política é em si mesma a luta pelo poder. Sei disso. Mas a luta para chegar ao poder, ou para nele ficar, deve ser um meio para atender os desejos das pessoas e não a finalidade primeira dessa luta.

É ingênua a presunção de alguns dos nossos políticos de querer inverter a relação de causas e feitos na luta democrática; e todos nós já caímos nesse pecado, em maior ou menor grau, quer nos órgãos internos dos partidos ou na esfera governamental, no executivo e nos parlamentos. Essa é moeda comum entre os cabos eleitorais, os vereadores, deputados, senadores e governantes municipais, estaduais e federais. E o que nos leva a cair nessa tentação? Vou tentar explicar, não justificar. A prática política é impiedosa no seu dia-a-dia. Nos envolve de maneira absoluta, principalmente os contatos com pessoas que, quase sempre, têm algo a reivindicar ou a pedir. Os liderados reivindicam a aprovação de uma lei, a edição de um decreto, um cargo público. Os líderes pedem votos. Então a liturgia política se transforma em uma via de mão dupla, onde dos dois lados sempre há alguém pedindo algo. Então, as reações individuais que geraram os anseios e necessidades do povo, se transformam em um balcão, onde os negócios nem sempre são claros, onde os agentes dos dois lados às vezes se sentem impotentes; isso porque a força do baixo nível político lhes tolhe os movimentos, as ações e mesmo as reações. Cabe aos políticos honestos se posicionarem e lutar contra este estado de coisa, buscando aperfeiçoar o embate democrático e lutar para que se implante no Brasil uma democracia mais perfeita, mais legitimas e mais representativa daqueles anseios e necessidades do povo”. 


Os Políticos Partidários

A democracia, como a compreendemos neste inicio do século XXI, não emudece e até estimula as lutas das massas e as reivindicação que as originam e delas nascem, como as lutas das minorias para conquistar e assegurar seus direitos. Todavia, há uma expectativa, se não tendência, de direcioná-las para o campo partidário. 

Os partidos políticos – como os entendemos desde o final da Segundo Guerra Mundial – nasceram quando o povo adquiriu o direito de ter um papel ativo na vida social e política. Para isso contribuíram dois fatores. O primeiro foi o crescente índice de urbanização da sociedade. O outro foi a conquista da liberdade de expressão e a concepção de que as reivindicações sociais, políticas e econômicas eram direitos sociais e políticos; e não casos de polícia.

Foi nesse contexto que os partidos políticos ganham força e passaram a ser o pilar mestre de sustentação dos regimes democráticos. Este não é um quadro de perfeição absoluta, mas, com disse Winston Churchill, a democracia é a pior forma de governo, salvo todas as outras formas que têm sido experimentadas. A democrática, como forma de governo, só é frágil quando os interesses político-partidários se sobrepõem aos interesses do país, da nação, do povo. Por isso é que o político partidário, dirigente ou mero filiado, é importante para a consolidação democrática. 

Perguntei a Aluízio Alves, em sentido figurado, qual o tipo de chapéu que deve cobrir a cabeça de um político? Sua resposta foi:

“Os políticos, de uma forma geral, devem cobrir sua cabeça com um chapéu cujo estilo não represente nem o conservadorismo de moda antiga e nem o espalhafato da moda ocasional. Deve sempre representar sua real personalidade e para isso deve ser confeccionado de bom material; estou respondente também no sentido figurado. Esse seria um modelo ideal, que é difícil de alcançar. Devemos partir do ponto de vista que esse político ideal é raro, é um modelo pouco provável de ser encontrado em estado puro. Há políticos sérios que são natos e esses é que deveria ser o espelho padrão, o receituário para todos os políticos partidários. Mas no Brasil a realidade é outra, a grande maioria (não todos, é bom que se deixe isso bem claro) é formada por pessoas que almejam apenas a renovação dos seus mandatos, a acomodação financeira e a sustentabilidade no poder conquistado. Essa é a visão do mundo partidário que eles têm: um discurso de interesses próprios, particulares, que enxovalha, suja, macula e até contamina toda a luta dos políticos partidários, até dos honestos. Há no ar uma espécie de aversão contra este estado. Os políticos em geral devem se posicionar contra essa situação, devem mudar de ótica para que seus olhos vejam em primeiro lugar as necessidades do povo, principalmente os mais humildes, os mais pobres. Os políticos tradicionais, clientelistas, não têm nenhum comprometimento com grandes objetivos ou com quaisquer outros ideais”.

A Burocracia Partidária

A burocracia existente dentro das agremiações políticas e no aparato estatal tem sido um empecilho ao aprimoramento da democracia representativa. A burocracia partidária, sempre acoplada aos seus líderes, tem peso decisivo nas decisões estratégicas de qualquer partido, mesmo depois da Constituição de 1988. A burocratização de alguns partidos se desenvolveu e atualmente é igual e funciona da mesma forma que nas empresas e na administração pública. A obtenção de votos como via de acesso aos cargos públicos, a não utilização do poder para atender os anseios da população é a regra. Instado a se posicionar sobre o assunto, Aluízio Alves disse: 

 “Esse é o comportamento menos adequado e imaginável para a atuação partidária. Como já discutimos antes, muitas vezes as bases dos partidos são sufocadas e nem sempre se fazem ouvir pelas elites. O resultado é que as atitudes dos dirigentes dos partidos nem sempre representam as posições dos liderados. Temos, então, uma questão de critérios e de natureza bastante questionável. Os discursos dos partidos têm que ser coerentes com o pensamento das suas respectivas bases. Claro que representando a maioria do posicionamento de seus integrantes, pois em nenhum partido há unanimidade de pensamento. O espaço social de qualquer agremiação é o espaço de sua maioria. Entretanto em nosso país é prática frequente que no núcleo, no coração da burocracia de alguns partidos se instalem dirigentes que controlam toda a máquina burocrática dos partidos, sendo o fiel da balança nas tomadas de decisões. Dessa forma, esses dirigentes dão a última palavra na escolha dos candidatos, na ideologia dos discursos, na estrutura do marketing, nas coligações com outros partidos e tudo o mais. Então, aquilo que deveria ser uma luta legítima pela representação legítima do mundo social passa a ser um monopólio da expressão da vontade de uma casta encastelada na burocracia dos partidos, fazendo com que esses partidos deixem de serem agentes sociais para serem meros agentes políticos.

Essa realidade tem um efeito deletério em um aspecto importante nas organizações políticas, pois tem efeito direto no conceito do que sejam os Programas Partidários. Os programas partidários deveriam ser formulados a partir de um complexo mecanismo de consulta pelo consenso obtido pelo ajustamento das posições, tanto regionais como setoriais. Hoje os burocratas usurparam essa função. A sistemática em uso pede que as propostas partidárias sejam redigidas por técnicos de cada área, sob a supervisão de marqueteiros e economistas. Os políticos assumem o papel de simples figurantes e de ratificadores do que foi decidido pelos burocratas. Esses programas são apenas peças que ornamentam o quadro das exigências legais para a existência dos partidos, meros itens legais ou meras peças de marketing”.


O Marketing Partidário

Segundo o jornalista Villas-Bôas Corrêa, em 1960 a campanha de Aluízio Alves para governador do Rio Grande do Norte foi um marco inovador do marketing político brasileiro. Ninguém nunca tinha ousado tanto. Embora articulada por um pequeno número de amigos, a “propaganda aluizista”, estava a cargo de uma agência de publicidade. O processo abrangia todos os ângulos: um mote, a esperança – que deu origem ao lema “Cruzada da Esperança”; uma cor, o verde – ligada ao tema esperança; um gesto, o polegar direito levantado – que representava a aceitação; um jingle bastante criativo – que destacava o fato do candidato ser um homem simples do interior; uma mítica, o Cigano Feiticeiro – para representar o carisma do próprio Aluízio. 

O grande alcance que hoje têm os meios de comunicação de massa tornou o marketing político na principal base usada pelos partidos para a conquista do poder. Dois exemplos recentes foram as eleições de Fernando Collor e de Lula à presidência. O primeiro, eleito ao ser  caracterizado pelo marketing como  “o caçador de marajás da República”. Lula, após três derrotadas consecutivas, se elegeu em 2002 ao ser transformado do operário “barbudo e revolucionário” no sorridente “Lulinha Paz e Amor”, bem vestido, barba feita e defensor de um programa humanista, abordando as questões da vida comum. 

Então: é o marketing político que ganha eleição? Aluízio respondeu:

“Dizer que marketing não ganha eleição e a mesma coisa que dizer que o dinheiro não comprar felicidade. A primeira afirmação é dos marqueteiros que querem fazer o povo de bobo; a segunda é fazer a apologia do coitadinho, do Jeca Tatu. Ambas são falsas. O marketing é que leva as mensagens aos eleitores, dizendo o que o candidato pensa e faria se recebesse os seus votos. O dinheiro não compra a felicidade, mas dá um grande empurrão nessa direção.

Quando ao marketing dos políticos, o problema está na sua concepção, na honestidade de objetivos, na homogeneidade que deve haver entre a mensagem e os propósitos do candidato. Há uma grande diferença entre a minha campanha de 1960 e as campanhas de marketing de hoje. Antes se procurara empolgar o povo defendendo as suas próprias reivindicações. O verde, a cruzada, as temáticas eram apenas invólucros, capas desses desejos. Hoje, se mente descaradamente. Agora as mensagens de alguns políticos não têm nenhum significado legitimo; esses candidatos não têm nenhum compromisso com o que suas propagandas dizem. Somente têm um objetivo, chegar ao poder, para ficar no poder. O resto é folclore. Há exceções? Claro que há, mas essas são pingos d’água em um oceano de linguagem mercadológica sofisticada, calcada em pesquisas da opinião pública, interpretadas conforme sejam as estratégias dos dirigentes partidários. Esse é um marketing manipulador dos eleitores e não interprete da sua vontade. Na verdade destina-se a manipular o povo”.
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