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Mudança e reclamação

Written By BLOG DO WOLNEY ERICK on sábado, 27 de julho de 2013 | 10:18

A mudança da vigília e da missa de encerramento da Jornada Mundial da Juventude (JMJ) de Guaratiba para Copacabana deixará o bairro ilhado por mais dois dias e afetará a vida de muita gente. Sem ter como ir para casa de carro e com a vizinhança tomada por peregrinos, muitos moradores estão revoltados. A alteração também causou cancelamento de shows e assustou noivos com casamento marcado para o hotel Copacabana Palace neste sábado, 27, à noite.
Fernando Frazão/ABrOntem, mais de um milhão de pessoas estavam nas ruas da praia para ver a Via Crucis e a passagem do papa FranciscoOntem, mais de um milhão de pessoas estavam nas ruas da praia para ver a Via Crucis e a passagem do papa Francisco

Os engenheiros Rosana Serfaty, 51, e Antônio Adolfo Freitas Valle, 61, moram nas proximidades da praça Cardeal Arcoverde, onde fica uma das mais movimentadas estações do metrô do bairro. Com viagem marcada para Belém na noite de ontem, horário da Via-Crucis na praia, o casal deixou as malas na casa de amigos em Laranjeiras, de onde tomariam um táxi para o Aeroporto Internacional.

“O que mais revolta é que esses eventos tiram nosso direito de ir e vir. Sem táxi e ônibus, e com o metrô lotado, não há alternativa”, disse Rosana, moradora do bairro há 40 anos. 

Outra reclamação é sobre as estruturas metálicas permanentemente armadas na praia, como a do palco em que o papa discursa durante a JMJ. Segundo Valle, a montagem do local e a chegada dos peregrinos já prejudicava a rotina dos moradores muito antes do início do evento. “A turma do calçadão já não consegue caminhar há uma semana”, disse.

O presidente da Sociedade de Amigos de Copacabana (SAC), Horácio Magalhães, tentou entrar na coletiva de imprensa do prefeito Eduardo Paes para saber o esquema dos eventos transferidos para o bairro. Foi barrado. “Fomos impedidos de conhecer o planejamento para o fim de semana. Ninguém é contra a vinda do papa, mas a improvisação é inaceitável”, disse.

Mesmo sendo católica praticante, Elaina Cirilo reclamou da transferência repentina da vigília para seu bairro. “Foi um evento extremamente mal planejado. Os moradores do bairro agora ficaram reféns da jornada”, disse ela, que fez compras com antecedência para evitar o comércio lotado de peregrinos. Os reflexos do evento na rotina da professora, de 34 anos, ocorreram antes mesmo da mudança. Ela conta que teve que desmarcar uma cirurgia na terça-feira por causa da movimentação.

Os noivos Íris Yamani e Rodrigo Ribas tomaram um susto com a mudança. Eles tiveram de mudar o esquema do casamento com 400 convidados, marcado para este sábado no Copacabana Palace. Agora, em vez do sistema de valet, utilizarão ônibus com passe livre para levar os convidados ao hotel. “A noiva está supertriste, superpreocupada. Acho que terá muita desistência, mas quem realmente gosta dela vai”, disse o cerimonialista Ricardo Stambowski.

Apesar das reclamações, alguns moradores se sentiram privilegiados por receberem o papa por mais dois dias. É o caso da presidente da Associação de Moradores Amigos de Copacabana (Amacopa), Myriam Barbosa, 76, moradora do bairro há 46 anos. “Foi uma bênção para o bairro. Já estamos acostumados com o réveillon. Sabemos que é um transtorno passageiro”, disse.

Irritado, prefeito assume ‘todas as responsabilidades’ 

Um irritadiço Eduardo Paes (PMDB) assumiu “todas as responsabilidades” pelas falhas de organização da Jornada Mundial da Juventude (JMJ) e anunciou Copacabana (zona sul) como novo local da peregrinação e vigília, antes previstas para Guaratiba (zona oeste), inviabilizada pelas chuvas que inundaram o terreno preparado para receber os fiéis.

“Quando não é perfeito, fica mais perto de zero do que de dez. Não estou dando nota zero, mas temos obrigação de ser perfeitos. Esse é meu papel, eu trabalho para a perfeição. Quando não acontece a perfeição, eu não fico culpando ninguém, nem querendo dividir a responsabilidade. A organização não está bem”, disse ele, em entrevista à rádio CBN.

Pelo novo planejamento, a peregrinação, em vez dos 13 km previstos, terá 9,5 km, entre a estação Central do Brasil (Centro) e a praia de Copacabana, passando pelas avenidas Presidente Vargas e Rio Branco, Aterro do Flamengo, enseada de Botafogo, rua Lauro Sodré, Túnel Novo e avenida Princesa Isabel. A caminhada, nas vias com tráfego bloqueado, começa às 7h de hoje (sábado).

O trânsito será interditado a partir das 7h. Copacabana só começará a ser totalmente bloqueada ao meio-dia. O metrô funcionará, mas sem cartões com horários pré-fixados. Como em Guaratiba, a vigilância será do Exército, com 7 mil militares.

“A autoridade do prefeito está aqui para assumir todas as responsabilidades, seja da prefeitura, do presidente, do governador ou de qualquer órgão do poder público. O que os governos estão fazendo é apoiar um evento que temos muito orgulho em receber, pedimos para receber. A visita do papa (...) é uma honra. Não vamos transformar a visita do papa em problema para a cidade. A visita do papa é uma alegria”, disse Paes, em entrevista no Centro de Mídia da Jornada.

“Não há nesta cidade outras áreas para abrigar 2 milhões de pessoas. Tinha a praia de Copacabana e o parque do Flamengo, só que ia ficar burguês demais. A decisão por Guaratiba foi do comitê organizador com apoio das autoridades”.

Segundo o prefeito, todos os recursos para a preparação do terreno foram do comitê organizador e da Igreja Católica, sem uso de dinheiro público, a não ser para asfaltar a estrada da Matriz.

Paes confirmou que a prefeitura gastou R$ 14 milhões em obras de urbanização em Guaratiba, mas antes de o local ser escolhido para sediar o principal evento da JMJ. O valor consta de documento do Tribunal de Contas do Município (TCM). Em nota, a prefeitura informou que só na dragagem do rio e canais foram gastos R$ 6 milhões.

Para o engenheiro civil Antônio Eulário, conselheiro do Conselho Regional de Engenharia e Agronomia do Rio (CREA-RJ), a obra de terraplanagem no terreno em Guaratiba foi feita sem estudos geotécnicos prévios que evitariam a transformação do local num lamaçal.

“Resolveram economizar R$ 50 mil que seriam pagos a um engenheiro geotécnico e acabaram perdendo todo o dinheiro gasto na obra”.
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