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“Universidades e escolas precisam estar mais próximas”

Written By BLOG DO WOLNEY ERICK on quinta-feira, 4 de julho de 2013 | 14:51

No Rio Grande do Norte, nenhum dos níveis de ensino atingiu a nota 5 no Ideb 2011. No ensino fundamental, a média nos anos iniciais foi de 4.1 e nos finais 3.4. O ensino médio teve o pior desempenho 3.1. Universalizar de forma qualitativa a educação básica é a única via para o desenvolvimento do país, defende a pedagoga Claudia Santa Rosa, diretora do IDE, para quem é preciso uma reformulação e definição de competências dentro do pacto federativo. “Há muita desarrumação na divisão de responsabilidades entre estados, municípios, tendo por fim garantir uma educação de qualidade social e que chegue a todos. Democratizando o acesso”, disse. A educação básica e profissional para o Desenvolvimento do Rio Grande do Norte é o tema da 17ª edição do Seminário Motores do Desenvolvimento. O MDRN é realizado pela TRIBUNA DO NORTE, UFRN, Sistema Fecomércio/RN, Sistema Fiern e Salamanca Capital Investments, com patrocínio do Governo do Estado, Cosern, Assembleia Legislativa e Banco do Brasil. O Seminário, primeira edição de 2013, será realizado no próximo dia 8 de julho, no auditório do Praiamar Hotel, em Ponta Negra, às 8h. Confira a entrevista.
Júnior SantosCláudia Santa Rosa: É preciso maior proximidade escolas-universidades, o professor sair com seus diplomas e sabendo as realidades e preparados para enfrentarCláudia Santa Rosa: É preciso maior proximidade escolas-universidades, o professor sair com seus diplomas e sabendo as realidades e preparados para enfrentar

Qual o cenário da educação básica no Estado?

Há avanços em nível nacional, apesar de lamentarmos que o Plano Nacional da Educação (PNE) estar há dois anos emperrado no Congresso. Há iniciativas com a implantação de políticas e de programas federais desde a Alfabetização na Idade Certa, com o lançamento do Pacto para estados e municípios aderirem e alfabetizar todos aos 8 anos, a expansão da rede de institutos federais, preocupação com o ensino médio. Mas  No RN, há  algumas iniciativas que sinalizam preocupação e diversos problemas, como a falta de professores, mesmo na capital,  infraestrutura deficiente, que comprometem e interrompem a normalidade do processo educativo e repercute no desempenho.

Qual é o desempenho atual?

Em termos de resultado, o último Ideb, considerando as metas previstas em âmbito nacional, apresentou avanços. Mas ainda há uma distorção grande. Escolas com Ideb 1 e 1.2, como em Lagoa de Pedras, um dos piores resultados do país, claro, há também algumas experiências exitosas aqui, mas fato é que o RN não conseguiu atingir o Ideb 5 em nenhuma dos níveis. É um pouco melhor nos anos iniciais do ensino fundamental, aí cai nos anos finais e despenca ainda mais no ensino médio. Não estamos bem. Se não conseguimos imprimir qualidade na educação básica, o ensino superior será deficiente. Há  metas de, até 2016, universalizar o acesso e todos de 4 a 17 anos, estarem matriculados. Mas os municípios não conseguem cumprir tais metas. 

Por quê?

Há uma divisão desigual do bolo tributário, a maior parte dos impostos arrecadados vai para o governo federal, que não é o gestor da educação básica, causando uma dependência por parte de estados e municípios pelo recurso federal. As competências também não são bem seguidas. O município, responsável pelo educação infantil e o ensino fundamental não atende toda a demanda. Mesmo assim, há municípios, como Natal, arcando com programas de bolsas em universidades particulares. Não dá conta do que é sua prioridade, então, por que atender com ensino superior, de responsabilidade do governo federal? O estado mantém uma universidade estadual em constante expansão, enquanto o ensino médio continua a ser o patinho feio com o Ideb estacionado em 3, numa escala que vai de 0 a 10. Ainda há muita desarrumação na divisão dessas responsabilidades, tendo por fim garantir uma educação de qualidade social e que chegue a todos. Democratizando o acesso.

Como está a cobertura de vagas em relação à quantidade de alunos em idade escolar no Estado?

Com base no censo de 2010, temos no Rio Grande do Norte, 970.927 pessoas com idade entre 0 a 17 anos, enquanto o número de matrículas nesse período, para  essa faixa etária, foi de 824.339. Ou seja, independente de se a oferta é do estado, o município, fato é que não atende toda a demanda em idade escolar. Há um percentual alto de pessoas fora do ensino médio e da educação infantil e isso causa  um feito cascata: o analfabetismo funcional. Dados do Instituto Paulo Montenegro, mostram que 38% dos que saem do ensino superior não conseguem  entender e ler um texto maior. Não podemos continuar com a cultura de privilegiar o ensino superior em detrimento de uma educação básica de qualidade. Hoje temos índices assustadores na educação básica por falta de investimentos, escolas sem professor, sem condição de funcionar.

Os professores têm preparação condizente com a realidade?

Há professores que saem da faculdade sem o conhecimento da realidade que vão enfrentar. O Brasil investe muito pouco na questão da relação entre instituições de ensino superior e escolas, de forma a linkar a formação desses futuro profissional com o diálogo e a ação nas escolas. Os estágios dos futuros licenciados  são aligeirados e de pouca participação da vida escolar na educação básica, durante o processo de formação. E isso precisa ser mudado. Os países que avançaram nos indicadores sociais investiram na educação e na formação dos professores, identificando os melhores estudantes e dando incentivos para  assumirem direto as vagas nas escolas. O Brasil ainda não acordou para isso e investe mais do que  deveria em formação continuada. Que deve existir mas no terreno da escola e não secretarias de educação viverem encharcadas de cursos de formação continuada, quando deveria haver mais consistência na formação inicial. As escolas terem a autonomia na elaboração de formação de curso de capacitação e atualização. 

Como está a interação Universidades e escolas?

É preciso maior proximidade escolas-universidades, o professor sair  com seus diplomas e sabendo as realidades e preparados para enfrentar. Os currículos dos cursos de licenciatura precisam se aproximar desta realidade, estão em desacordo. Há bons projetos para trazerem para o corpo docente das faculdades profissionais habilitados, mas os currículos dos cursos de licenciatura estão distante do que é a necessidade educacional. E não é por acaso, tem a ver com o desprestígio da profissão e isso é muito grave. Ser professor do magistério hoje no país beira o absurdo do desprestígio, essa percepção se sobressai inclusive na estrutura dos cursos de licenciatura, . A impressão, muitas vezes, é que se  monta os cursos de licenciaturas porque é fácil, mais baratos. Muitas vezes, não recebem grandes investimentos em tecnologia para formam o professor, como outros cursos. 

Em relatório divulgado pelo Programa de Desenvolvimento das Nações Unidas (PNUD), o Brasil aparece entre os três, de 100 países analisados, com a maior taxa de evasão escolar. Por que o abandono é tão alto?

Esse índice reflete a falta de estruturas físicas, professores mal preparados, escolas pouco atrativas e desconectadas da realidade que a gente vive. Quando a tecnologia chega, diferente do visto em outras áreas, como medicina, ciências, na educação leva duas ou três gerações para frente. Estamos atrasados em educação. Muitas vezes eles abandonam, porque a escola não é atrativa, porque o estudante  precisa entrar no mercado de trabalho ou não encontra sentido na escola, quando saem mais jovens, não se alfabetiza, o professor são mais remunerados, uma parte deles estão ali no magistério porque não conseguiram outra coisa. E isso é muito grave.

Na educação pública, os melhores e piores, há poucos medianos. Ou é top ou é fraco. Os primeiros se identificam com a profissão e lutam para ser respeitada, são encantados, alguns obcecados e buscam as formas de se manterem. E há aqueles que estão porque estão, porque foi o curso que deu certo, o concurso que fez. E os reflexos aparecem na qualidade dessa escola. O que pode ser feito para mudar essa realidade?

O Plano Nacional de Educação é fundamental e que não passe de 2013, o país precisa e em consequência os estados e municípios também tenham  os planos em níveis locais. No Rio Grande do Norte, está parado. Esses planos, nos três níveis, devem ser objeto de discussão com a sociedade, com escolas e todos os segmentos. E não ser de gabinete, nunca. O PNE está emperrado devido as muitas emendas, sobretudo a questão do PIB 10%. mas se conhece as 20 metas 

Aprovado com emendas, o PNE traz as soluções ou é preciso...

Sinaliza perspectivas positivas de reverter mazelas, porque traz a dimensão do atendimento a educação infantil, várias metas para a valorização do professor, atende a questões de infraestrutura das escolas. A partir dele, os programas e ações gerados, como já vemos acontecer com o pacto nacional pela alfabetização na idade certa, além disso há também medidas de destinação dos recursos do royalties do pré-sal para aumentar o volume de recursos para a educação básica. Nós utilizamos mal os recursos já existentes. A gestão da educação é frágil e ainda conseguimos usar mal, mas é verdade que para fazer a educação com a altura que nós desejamos com a qualidade que esperamos com os patamar e é preciso um montante bem maior. Mas só isso não resolve, é preciso investir em qualificação e valorização dos  profissionais, pode se chegar a 30% do PIB e não se resolve definitivamente.
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