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Comida cabeça

Written By BLOG DO WOLNEY ERICK on domingo, 22 de dezembro de 2013 | 10:21

Está deprimido, para baixo, entristecido? Que tal encarar um prato farto de legumes, verduras, grãos, peixe, tudo regado com bastante azeite de oliva? Sim, alguns alimentos podem acabar com esses sentimentos de tristeza sem fim. Estudos recentes comprovam que a chamada dieta do Mediterrâneo é capaz de prevenir não apenas problemas cardiovasculares, mas também a depressão — considerada hoje a quarta maior causa de incapacitação e galgando postos rumo ao segundo lugar, de acordo com a Organização Mundial de Saúde. 

Pesquisa realizada pela Universidade de Queensland, na Austrália, estudou os hábitos alimentares de milhares de pessoas e descobriram que os sintomas depressivos diminuíram cerca de um terço nos adeptos da dieta mediterrânea. 

A combinação dos alimentos dessa dieta tem a capacidade de reverter processos inflamatórios do organismo, seja do coração e vasos sanguíneos ou da mente. Mas quais são esses alimentos?
Alex RégisNutricionista Michelle Régis comenta que apenas a dieta não é suficiente para acabar com a depressão. É preciso aliá-la a outras terapiasNutricionista Michelle Régis comenta que apenas a dieta não é suficiente para acabar com a depressão. É preciso aliá-la a outras terapias

A dieta mediterrânea se baseia em alimentos de elevado valor nutritivo como grãos, cereais integrais e leguminosas, peixes e crustáceos, bem como algumas sementes, frutas, legumes, verduras e raízes , azeite de oliva extra virgem, leite e derivados, vinho (potente antioxidante quando consumido de forma moderada) e água.

Segundo a nutricionista Michelle Régis, a alimentação funcional pode ser um meio efetivo para interferir no bom equilíbrio do organismo afim de obtermos grandes melhoras nos quadros depressivos. Ela comenta  que alimentos de origem mediterrânea oferecerem elevados teores de nutrientes capazes de equilibrar os níveis de serotonina (neurotransmissor condutor de impulsos nervosos) no cérebro que atua sobre o sistema cardiovascular, evitando inflamações cerebrais e controlando as reações de depressão, medo, ansiedade, sono e percepção à dor, também relacionados a uma desordem na produção da noradrenalina, dopamina, cortisol.

“Vale salientar que em casos de depressão moderada à mais grave, a dieta por si só não solucionaria todos os problemas do indivíduo. Há que se manter sincronia entre outras terapias e buscar resgatar a pessoa acometida através de mudanças nos hábitos de vida, de comportamento e até mesmo ambiental. A saúde deve estar relacionada tanto à mente quanto ao corpo, ao espírito e ao âmbito social”, comenta Michelle, que indica a dieta mediterrâneo. 

Nutrientes do bem-estar


As propriedades benéficas da dieta mediterrânea contra a depressão também foram tema de um estudo realizado na Espanha, em 2009, com bastante repercussão na comunidade científica mundial. Foram analisados 10 mil pessoas adultas, durante quatro anos e meio, e constatado uma redução de 30% nas chances de desenvolver comportamento depressivo naqueles que seguiram a alimentação sugerida pelos pesquisadores.

Os pesquisadores espanhóis acreditam que o estado depressivo, entre tantos outros fatores, esteja relacionado a um aumento no número de moléculas inflamatórias na corrente sanguínea. Esse seria o motivo pelo qual os deprimidos e angustiados em geral serem mais suscetíveis a doenças cardiovasculares.

“Então, uma coisa está diretamente associada à outra.  No que eu tenho um maior número de moléculas inflamatórias na minha corrente sanguínea, a probabilidade dessas moléculas coagularem e formarem placas vai ser bem maior. E essa formação de placas pode levar ao entupimento e gerar diversas doenças, como infarto, AVC, derrames”, comenta Camila Moreira.

Daí, a dieta mediterrânea ter sido sempre associada a benefícios cardiovasculares. 

Mas além de nutrientes como ômega-3, de ação antiinflamatória, ácido eicosapentaenoico (EPA) e  docosa-hexaenóico (DHA), envolvidos em algumas reações bioquímicas responsáveis pela prevenção de doenças neurodegenerativas, também foram encontrados outros, como o folato e o triptofano.

Esse último é encontrado principalmente em grãos, como castanhas, e se converte, no nosso sistema nervoso, em serotonina — responsável pela sensação de bem-estar. “Geralmente, a gente não consome a serotonina diretamente na dieta; consumimos alimentos que são ricos em triptofano e depois de desencadear diversas reações, vai se transformar em serotonina”, comenta a nutricionista. 

Logo, uma pessoa que mantem equilibrado o seu bem-estar, raramente vai desenvolver depressão, na análise de Camila Moreira.

Contra a depressão 


A psicanalista Odete Bezerra celebra as descobertas relacionadas à nutrição e prevenção da depressão como mais uma conquista no combate a esse que já é considerado como um dos males do século. “Nossa sociedade está doente. Estamos mais ansiosos que nunca.”

Comentando, porém, que a alimentação está bastante ligada a fatores culturais e econômicos, ela pondera apenas que o costume de ser ter uma alimentação saudável se popularize em todas as classes da sociedade, para que todos possam usufruir de seus benefícios, inclusive na prevenção de doenças como a depressão. 

Para a psicanalista, nós ainda estamos bastante atrasados no conhecimento pleno de como funciona o cérebro humano com relação às emoções.

Ela observa o fato de nenhum antidepressivo ter realmente 100% de resultados positivos contra comportamentos depressivos. “Além de ter muitos efeitos colaterais, não temos o respaldo de curar, resolver o problema apenas com remédio.”

A maioria dos depressivos necessitam de remédio para atenuar os efeitos da doença, mas a farmacologia ainda não apontou uma solução. “Uma tristeza grande, decepções sucessivas podem gerar a depressão”, comenta Odete Bezerra. 

Em sua análise, a tecnologia causa angústia no ser humano. Aquela coisa atual de comprar um celular ou um computador, por exemplo, e eles já estarem obsoletos com pouco tempo. “E o ser humano não sabe lidar com a espera”, comenta Odete, acrescentando ainda como fatores desencadeantes do problema a própria instabilidade da vida. “A dificuldade do pai exercer o seu papel; a mãe exercer o seu.”

Além da dieta mediterrânea, a psicanalista indica, como forma de lutar como a depressão, caminhar descalço à beira-mar, sentindo a areia no pé, deixando-a massageá-los. 

“É uma ótima forma de amenizar a depressão. A massagem da areia nos pés é transmitida para o cérebro e isso estimula a produção de serotonina”, comenta Odete Bezerra, acrescentando também os efeitos visuais diante da imensidão do mar. A visão que se tem do infinito diante do mar, sua beleza, vai influenciar também.”

Bate-papo: Camila Moreira - nutricionista


O que é dieta mediterrânea? O que a caracteriza? Quais seus fundamentos?

A dieta mediterrânea abrange o consumo alimentar  presente em 22 países, de três continentes; Ásia, Europa e África; que estão na costa do Mar Mediterrâneo. Esses países têm um padrão alimentar semelhante, relacionados a alguns aspectos. Por exemplo, o consumo de óleo vegetais, de gorduras insaturadas, poliinsaturadas e monoinsaturadas é maior lá. O consumo de peixe também. Porém, não existe um padrão para todos esses países. Cada um deles tem um consumo diferenciado em algum alimento. Se a gente for ver a Itália, lá tem um padrão alimentar bem diferente da Espanha. Enquanto na primeira tem uma quantidade maior de massa; na outra tem mais peixe e mais alimentos de origem vegetal. Porém, ambas consomem uma quantidade e tipo semelhantes de óleo. 

E como é o padrão alimentar desses países?

É composto por alguns alimentos em abundância: frutas, vegetais, legumes, cereais integrais, oleaginosas... eles consomem bastante lentilha, grão de bico e algumas sementes. Há um maior consumo de gorduras monoinsaturas, de azeite de oliva,  um menor consumo de carnes vermelhas e derivados, embutidos e enlatados; consomem mais peixes de água doce, que têm uma grande quantidade de ômega-3; os iogurtes, leites e derivados são consumidos em menor quantidade; o vinho, que é bastante consumido; enquanto que aqui no Brasil nosso padrão de bebida alcoólica é a cerveja. Lá, é o vinho mesmo. E eles consomem em menor quantidade. O consumo de ovos também; no mínimo quatro vezes por semana.  E as sobremesas de lá, enquanto aqui a gente utiliza bastante gordura nos nossos doces, lá as sobremesas são feitas com frutas frescas e adoçadas com mel. Então, tem uma diferença bem vertiginosa. 

Mas esses são costumes milenares do povo mediterrâneo, não é mesmo?

Sim, mas, no entanto, não é nada distante de nossa realidade.  

Existe algum tipo de restrição à dieta mediterrânea? Alguém não pode ser adepto? Nenhuma dieta é padrão para todos indivíduos. Até porque todo mundo é diferente um do outro. Provavelmente pode ser padrão para a maioria da população, mas existem alguns grupos específicos que nós temos que analisar com maior critério. Por exemplo, essa questão das frutas frescas com mel. Uma população de diabéticos, não indicaria o uso de mel em abundância. Seria uma coisa mais controlada; teríamos que adequar. Da mesma forma a questão do álcool no vinho. Tem muita gente que não pode ingerir. Nesse caso, trocaríamos pelo suco de uva integral.  

Tribuna do Norte
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